sexta-feira, dezembro 17, 2010

Motorista, motorista, olha o vômito!


Peguei o lotação Chácara das Pedras, ontem, para voltar do trabalho. Sentei lá no fundão escurinho, como geralmente faço, ouvindo Beatles no meu MP4. Esperava, até ansiava, por uma daquelas viagens tranqüilas, em que a gente esquece da vida, inclusive, do ponto de descida. Mas infelizmente não foi isso que ocorreu.

O amigo motorista parecia tratar o freio como seu brinquedinho particular. Toda vez que nele pisava, os passageiros eram imediatamente ejetados até a frente, para em seguida, retornarem às suas poltronas. Verdes de náusea.

Depois da terceira vez que isso aconteceu, comecei a sentir um líquido quente subindo e descendo pelo meu esôfago. Queria contar a ele que meu estômago é muito sensível. Que, desde criança, nunca fui capaz de realizar a mínima viagem de carro sem tomar uma cartela de Plasil antes. E alertá-lo de que ali, naquele momento, eu não estava preparada para o tipo de chacoalho a que ele estava me submetendo. Mas não tive forças.

Fiquei ali, de olhos fechados, tentando pensar em qualquer outra coisa que me distraísse. Mas quanto mais o lotação balançava e quanto mais o motoriasta brincava de frear bruscamente, mais eu recordava o último passeio de escuna que fiz, ao lado de minha mãe. Vomitei tudo o que tinha direito, paguei um mico federal. Até uma caminha de coletes salva-vidas o guia teve que fazer para mim, pois não conseguia parar em pé. Enfim, se o mesmo acontecesse naquele momento, a culpa seria dele, somente dele, o motorista. Tenho certeza de que os outros passageiros me apoiariam.

Quando estava quase pondo para fora todo o meu tormento, olhei para a frente e percebi que estava chegando a minha hora de descer. Peguei o dinheiro, fui até a frente do carro, cambaleando, e consegui dizer ao motorista "um pouco antes do viaduto". O infeliz parou na esquina da São Manoel, rua seguinte ao viaduto. Naturalmente este cidadão domina o conceito da palavra 'antes'. Mas tudo bem, o importante é que eu estava fora. Respirei fundo e saí caminhando.

Estou pensando seriamente em comprar uma vassoura e começar a ir voando para o trabalho. Por terra anda muito perigoso...

Texto publicado originalmente em O Elemento Fogo, em 12/07/2008

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