quarta-feira, janeiro 09, 2008

Saldo positivo





Tudo bem, 2008 tem só duas semanas. Mas, no quesito cinematográfico, pelo menos, esse ano começou muito bem. Duas semanas, dois filmes. Se eu conseguir manter essa média ao longo do ano, já vou ter algo para dizer que 2008 valeu a pena. A primeira pedida: A Noiva Perfeita. O que poderia virar uma história babaca estrelada por, sei lá, um Adam Sandler ou um Ben Sitller, mas nas mãos do ator francês Alain Chabat se transformou em uma narrativa divertida e cheia de nuances.
Sim, tu sabe como o filme vai terminar – a mocinha e o mocinho quem sabe felizes até terminar a duração da película – entretanto, o que ocorre no meio vale os 90 minutos dentro de uma sala refrigerada (uma benção em Porto Alegre). Luis Costa (Alain Chabat) tem 43 anos, uma mãe dominadora e uma penca de irmãs. Cansadas de mimar o único homem do clã, a ala feminina dos Costas decide – numa reunião especialíssima do G7 – arrumar uma mulher para Luis. Ou mesmo um homem, o que interessa é ele casar.
Partindo desse argumento básico, mas pra lá de básico, o roteiro segue com milhares de armações e personagens que vão se revelando. Emma, feita pela cantora e atriz francesa Charlotte Gainsbourg, traz um pouco de realidade pra vida chata, monótona e certinha de Luis. Não vou contar mais, vai pro cinema!
Mas, destaque pra uma das melhores cenas, logo no prólogo do filme, Luis caracterizado como Robert Smith, do The Cure, sofrendo de amor em pleno anos 80. Boa, muito boa. Tinha horas que ele me lembrava o Eduard Mãos de Tesoura com aquele cabelo.
Na segunda sessão do ano, um clima mais pesado e um dos melhores filmes que eu vi nos últimos tempos. O alemão A Vida dos Outros. Sim, pode me chamar de metida, só vi produções européias até agora. Bom gosto no último! Denso, bem construído, humano, demasiadamente humano, bem filmado, atores em perfeita sintonia. Apesar de ter ganho o Oscar no ano passado, disputando com o também excelente Labirinto do Fauno, só agora a produção ganhou pré-estréia em Porto Alegre. Também, os cinemas estão cheios de filmes todos com a mesma cara que levam mais público e adeus aos espaços para os filmes não-blockbuster. Enfim, esse é um outro assunto.
Três personagens principais, um escritor, uma atriz e um funcionário da Staci, a polícia da Alemanha Oriental, se cruzam na história que se passa em berlim em 1984, antes da Queda do Muro, e cada um deles vai reavaliar aquilo que realmente tem significado e o que é mais importante para sua vida. Pode até parecer um roteiro clichê, mas isso é tudo o que o filme não é. Apesar de ser falado em alemão – uma língua dura em que até mesmo as palavras de carinho parecem um tapa na cara -, A Vida dos Outros tem uma beleza, e até mesmo uma delicadeza, incrível.
Solidão, ideais destruídos, amizade, amor, traição, sobrevivência, tristeza, revolta. Tudo isso está lá escancarado na tela de uma forma poética. Nada de grandes cenas de ação, sangue jorrando, perseguições. As cenas são minimalistas, mas as expressões e gestos já dizem tudo. O silêncio sempre falou mais alto. Num resumão tosco, um ministro alemão se encanta pela atriz e para ficar com ela coloca o seu namorado, o escritor, sob vigilância 24 horas pelo agente da Staci, um frio especialista em interrogatórios. Tudo para achar algo que incrimine o escritor e o jogue em alguma cela para ser esquecido pelo tempo.
A cena final é de uma força impactante, chorei. Aliás, quase perdi uma das lentes na saída. Tive que correr pro banheiro para que a fujona não rolasse rosto abaixo junto com as lágrimas. Mas, esse não é um dramalhão. Teve gente que ria em algumas cenas, não entendi até agora do quê, mas é tão raro ver personagens tão humanos nas telas que até doeu um pouco.

7 comentários:

Chantinon disse...

Apesar de gostar dos filmes do Adam Sandler e Ben Sitller, tenho que concordar que os Europeus quando fazem coisas engraçadas, são legais!
Só pelo "caracterizado como Robert Smith" já deu vontade de ver.

Que o ano seja cheio de filmes para você :)

Trevas disse...

Olá Chantinon. Obrigada pelos comentários no Morte.
A cena dele como Robert Smith já vale o filme. Infelizmente, eu não posso mais ver nenhum filme com o Adam Sandler e nem como Ben Stiller, acho que eles sempre fazem o mesmo papel e as piadas se repetem, repetem, repetem...
Já disse alguém sábio por aí, toda a unanimidade é burra. E que bom que existam opções para todos os gosto. ;)

Anônimo disse...

O Labirinto do Fauno não deve ser visto por pretensas princesas... As que fazem o tipo Disney, digo. Um dos melhores filmes que assisti em 2007.
É verdade, o Ben Stiller já cansou e, mesmo sabendo disso, assisti Uma Noite no Museu. Saí do nada e cheguei a lugar algum!
O Adam Sandler acho que ainda pode dar um caldo. Será que sou muito otimista? (kekekekekekeke...)
Anotei a dica A Vida dos Outros e vou ver se o encontro telecinado no meu personal camelot. (kkkkk...)

Beijos,

João Eduardo

Lari Bohnenberger disse...

Trevas querida! Não sou uma pessoa de hábitos tão 'cult' quanto vosmecê, mas adoro produções européias e já anotei as duas indicações no meu caderninho. Eu e nossa companheira Tita fomos ver "Amor nos Tempos de Cólera" e "P.S. Eu Te Amo". Tá, eu sei que este último não se enquadra exatamente dentro do teu gosto, mas eu recomendo mesmo assim.

Bjocas!

Trevas disse...

João, concordo contigo, Labirinto do Fauno está na minha lista dos melhores de 2007! Quanto à Vida dos Outros, se teu personal não conseguir, o filme já entrou em cartaz em várias cidades do país.

Lari, realmente comédias românticas não são comigo, eu espero que virem prato principal na Sessão da Tarde para então ver qual é que é. Algumas até surpreendem, como Tudo acontece em Elizabethtown. Casos raros. Quanto ao Amor nos Tempos do Cólera, ainda não consegui escrever sobre o filme, pois a decepção foi muito grande. O livro é um zilhão de vezes melhor.
Bjs

Lari Bohnenberger disse...

Sobre "Amor nos Tempos de Cólera"... livros são geralmente um zilhão de vezes melhores que os filmes originados deles. Mas eu não achei o filme ruim não. A interpretação do Javier Bardem valeu o filme. Acho ele um puta ator.

Bjs!

Trevas disse...

Lari, achoque o Javier é a única cois aboa do filme. Pois, o resta, deixa muito a desejar. Tem um pots do blog Garotas Cinematográficas que resume bem o que eu acho da produção, que já começa errando feio pra caramba ao fazer o filme em inglês. Um inglês cheio de sotaque. Horrível.
http://garotascinematograficas.blogspot.com/2008/01/o-amor.html