terça-feira, abril 11, 2006

Quando eu crescer... ou algo assim


Depois de ouvir o cineasta Jorge Furtado, do alto dos seus quase 50 anos, dizer que ainda não sabe bem o que quer ser quando crescer, desliguei um pouco a sirene que não pára de tocar na minha cabeça por também não saber o que quero ser/fazer daqui pra frente. Diretor consagrado nacionalmente – já fez filmes como Ilha das Flores, O homem que Copiava, Meu Tio Matou um Cara, além de dirigir minisséries e episódios do saudoso Comédias da Vida Privada –, Furtado parece ter descoberto tardiamente o prazer da escrita. Ele está lançando o primeiro livro de uma série de romances que buscam inspiração nas obras de Shakespeare. O que me chamou a atenção na conversa que teve com o público e com o jornalista Ruy Carlos Ostermann foi a sua afirmação de que o cinema não te dá a mesma liberdade que a escrita. Ao dizer que cinema é apenas uma sala escura com uma tela grande, Furtado tentou tirar a magia que envolve a sétima arte. Pareceu até dar uma desprezada na arte que o consagrou.
Mais ligado a questões técnicas e financeiras, que são importantes também, desdenhou um pouco ainda sobre a construção dos roteiros de cinema. Quem leu os roteiros de qualquer um dos filmes de Tarantino ou Irvine Welsh (escritor de Transpoiting) consegue para ver a riqueza de detalhes que podem compor uma cena além dos tradicionais: Cena 1 – Externa – Dia. Literatura e cinema são duas das minhas grandes paixões, porém uma não se sobrepõe a outra em qualidade ou superioridade como comentou Furtado. Algumas histórias são muito melhores nos livros do que nas telas, mas dizer que Iluminado de Kubrick ou que Tubarão de Spilberg são ruins é praticamente uma blasfêmia.
O cinema, assim como a literatura, produz coisas boas, excelentes, ruins e puro lixo. Tudo é uma questão de talento. Uma boa história, que aborde até mesmo uma coisa simples e banal, precisa te prender desde o primeiro minuto ou página. Tem que ter conflito. Nenhuma das duas arte sobrevive sem esse elemento básico. Seja a novela mexicana, o filme Dois Filhos de Francisco ou Assassinos Por Natureza. Indignação, revolta, emoção, identificação, algum sentimento tem que ser provocado quando se está vendo um filme ou lendo um livro. E esse é o barato das duas artes, mexer com a emoção, com o raciocínio, fazer a pessoa pensar, se questionar.
O Cinema ganhou dos franceses o nome de Sétima Arte exatamente porque ele acrescentava outros itens que a literatura não oferecia. Era a imagem, o som, o movimento em outra dimensão. Não se pode desprezar isso. A literatura é uma experiência da imaginação, afinal de contas eu posso imaginar o meu herói ou vilão do jeito que eu quiser, mas nem esse fato tira o fascínio que o cinema e aqueal sala escura com uma tela grandes proporciona.
Enfim, esse não era para ser mais um texto sobre cinema e sim para falar de com a gente está em constante busca. De como ser humano é indeciso por natureza, o que o diga esse texto que me parece ficou sem pé e nem cabeça.

2 comentários:

Camila Barth disse...

Ai que bom.. Não sou apenas eu que me sinto meio perdida. Ainda não sei o que serei quando crescer ou quem eu sou agora.

Grata pelo alívio que destes a minha mente que está em constante inquietação na procura para estas respostas.

Raquel disse...

somos duas aliviadas...